sábado, 18 de setembro de 2010

Campeão so por que temos dinheiro?

Fernado ferretti, Tenico do Santos/Cortiana

Por Fernando Ferretti Treinador ex - Walwee/Cimed e ex-Treinador da Seleção Brasileira de futsal.

Jaraguá do sul (SC) - Será que a nossa Malwee que ganha quase tudo há algum tempo no futsal brasileiro,ganha porque tem dinheiro. Será que é só por isso?
Nem sempre foi fácil assim e vou contar umas histórias para dar mais subsídios a todos.
Quando chegamos em Jaraguá do Sul (SC) em janeiro de 2001,encontrei um monte de meninos revelados no futsal de base da cidade, chamados Chico,Xande,Leco,Junai entre outros.Estão aí até hoje,são multi campeões,foram e estão convocados para a Seleção Brasileira porque acreditaram que o caminho era o trabalho.
Não havia patrocínio de ninguém, pois a Malwee chega como investidora na equipe só em abril deste mesmo ano, e investindo muito, mas muito menos do investe hoje. Fomos com um time jovem a Fortaleza na Taça Brasil e terminamos em quinto lugar, desperdiçando a vaga na semifinal, no último minuto de uma partida contra o já poderoso Carlos Barbosa, ao tomarmos um gol numa bola de segundo pau.
Voltamos para casa e entramos com um cheque pré-datado na Liga Futsal daquele ano. Sim, cheque pré porque não tínhamos todo o dinheiro para pagar a vaga da Liga que valia R$60.000,00 e correndo atrás para cobrir na data certa. Sabíamos que só seriamos grandes se jogássemos e aprendêssemos com os grandes.O mercado para contratar bons jogadores já havia quase se fechado e acabamos contratando ,praticamente quem havia ficado sem clube.
Chegamos em oitavo lugar naquele ano mas conseguimos ser campeões brasileiros de seleções representando SC em Aracajú(SE) e campeões dos Jogos Abertos de SC.
Com resultados despertamos atenção do patrocinador que decidiu melhorar o projeto passando a buscar atletas referência e o primeiro a chegar foi Manoel Tobias em 2002 e já alcançávamos o terceiro lugar na Liga daquele ano.
Em 2003 sai Manoel Tobias e chega Falcão contratado ao Banespa de SP.
Começamos a série espetacular de 6 Taça Brasil vencidas em seqüência (hexa campeões mesmo ,ano após ano) até vencer primeira Liga em 2005 e estar na últimas 4 finais,tendo vencido três edições.
Claro que quanto mais vencíamos, mais o patrocinador se entusiasmava e mais investia e mais vencíamos criando assim um círculo virtuoso.
Dito isto eu pergunto: Só dinheiro seria suficiente?
E respondo: dinheiro e competência.
Costumo dizer que a razão do nosso sucesso se apóia em cinco pilares, na ordem que quiserem colocar:
1) Diretoria reduzidíssima onde quem manda mesmo é somente uma pessoa.
2) Patrocinador que obtém seu retorno (não informam quanto por uma questão estratégica) e raramente se intromete nos problemas da equipe e quando o faz, faz para ajudar.
3) Comissão Técnica competentíssima com todos trabalhando por todos, mas cada um craque na sua especialidade. Sempre falo que quanto mais me cerco de gente competente, menos trabalho e cada vez vencemos mais.
4) Grupo de atletas qualificados e que gostam da equipe e que, sobretudo, tem afinidade com a cidade que retribui este carinho com apoio e que recebe em troca, cada vez melhores resultados.
Se for verdade que o dinheiro é tudo porque o Brasil, recheado de grandes craques, com uma CT competente e muitos patrocinadores não venceu a última Copa do Mundo de Futebol na Africa?
Ao usarmos a falta de condições como desculpa para os nossos fracassos, fingimos que preparamos nossa equipe porque fingem que nos pagam ou apóiam.
Tenho visto muito profissional em condições adversas fazer a diferença – alguns deles eu trouxe para trabalhar comigo – saindo da mesmice das desculpas prontas. Vejo a história recente de muitos, parecidas com a minha. Gente que sai meia noite dos clubes porque não há outra hora para treinar, que treina só umas poucas vezes por semana porque não há quadra, atleta que trabalha o dia inteiro, mas que mesmo assim botou a cara na janela e foram vistos. Ficar reclamando e achar desculpas fáceis para o nosso fracasso e para o sucesso dos outros é alternativa de quem já perdeu antes da luta começar.
Recebo muitos treinadores de todo o Brasil e da América Latina na Malwee, nas duas turmas anuais de Estágio realizadas aqui e vejo olhos brilharem, me vejo neles há 30 anos atrás no futsal do RJ, saindo Niterói para Ramos (para quem não conhece a distância é grande) para dar um treino depois de ministrar aulas em escola públicas todo o dia, com a mesma motivação, e que naquele ano de 1986 o prêmio pelo nosso esforço foi vencer o então poderoso Bradesco, na final da Recopa Carioca com um time de atletas que não se deram por vencidos pela dificuldade, muito parecidos com estes mesmos que vemos hoje perambulando a espera de uma oportunidade real num time de verdade. Vim embora para o Sul do país com um passagem comprada no crediário, fazendo a familia esperar, acreditando num sonho que, graças a Deus também se realizou.
E você que me lê? Tem sonhos? Quer realizarlos? Então pare de se lamentar a faça diferente de tudo que você viu todo mundo fazer.
Com trabalho você transforma sonhos em realidade, o resto é sorte e azar e isto não existe. A Malwee é grande porque tem apoio, não para de trabalhar e de aprender. Pense nisso e até breve...